sábado, 30 de junho de 2018

Conseguimos ser mães numa UCIN?


A UCIN é um mundo muito complexo e muita coisa se passa e se sente naquele lugar. 
Para além dos medos, para além do percurso dos nossos filhos, para além das outras mães e dos profissionais há a questão de: conseguimos ser mães ali?
Eu consegui ser mãe da Lara enquanto que ela esteve internada mas foi diferente de tudo o que desejei mas não foi menos bom. 
Nós somos mães dos nossos bebés a diferença é que temos que aceitar que num período de tempo temos que pedir autorização para sermos mães. Pode parecer muito forte esta afirmação mas a  realidade é mesmo essa e temos que aceitar isso sem levarmos isso para o lado negativo da coisa.
É verdade que chega a um momento que nos custa imenso ter que pedir a alguém para cuidar do nosso filho, e nesses momentos o que nos vem à cabeça é que eles ainda não são verdadeiramente nossos. É mau?
Não o posso dizer dessa forma, eu vi todo esse procedimento como algo de bom para a Lara. Tudo o que tinha que abdicar, todos os momentos em que dizia "Já posso tratar da Lara" como se ela não fosse minha era para o bem dela. Aceitei que a tinha que a dividir com os "tios" e as "tias" e na verdade no primeiro mês a Lara foi mais deles do que minha. Mas eles davam à Lara aquilo que ela precisava em termos de cuidados e eu completava com o meu amor e apoio.
Este lugar é um lugar que se tem que trabalhar em equipa e não dá para querer ser mãe logo quando eles chegam. Há todo um processo de adaptação e temos que sentir isso como mais uma aprendizagem. Nós aprendemos tanta coisa boa ao termos que pedir para sermos mães. Porque quando temos que pedir para ser mãe do nosso filho naquela determinada hora, aquela hora vai ser aproveitada tão bem, coisa que não conseguiríamos fazer se fossemos mães a toda a hora.
Como já falei num destes dias, na UCIN aprendi a amar de outra forma bem como aprendi que há tanta forma de ser mãe.
Para quem foi mãe de um bebé que passou pela UCIN ou Neonatologia, vocês não foram menos mães por não poderem fazer tudo o que queriam, vocês foram as mães certas naquele momento, fomos mães de forma diferente mas fomos as mães que eles precisaram.
Há regras que temos que cumprir nestes lugares mas não são as regras que nos impedem de acarinhar e amar os nossos filhos...

Imagem retirada de. https://www.google.pt/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&ved=2ahUKEwi6ybDx-PTbAhVLbhQKHUfZC0sQjhx6BAgBEAM&url=http%3A%2F%2Fviveramarfazervalerapena.blogspot.com%2F2013%2F10%2Ftrabalho-de-parto-prematuro-com-26.html&psig=AOvVaw1QvZBJ7upBm1Gmk7FZV29Q&ust=1530226657815227

quarta-feira, 27 de junho de 2018

O ambiente na UCIN




O ambiente numa Ucin é difícil de se explicar. É um lugar intenso, onde tudo pode acontecer mas não é um sítio onde só coisas más acontecem.
Na Ucin passamos também momentos bons a começar por todas as vitórias dos nossos filhos.
E fora o percurso dos nossos filhos aquele ambiente pesado permite-nos criar amizades. Tanto com enfermeiros mas principalmente com as outras mães.
Entramos centradas no nosso filho mas com o passar do tempo os filhos das outras mães também são importantes.
Começamos a partilhar a dor, o medo e a alegria de cada avanço.
E não há ninguém que perceba melhor o que estamos a passar que aquelas mães que estão no mesmo sítio que nós.
E saimos dali com saudades das outras mães e falamos para saber como vai cada guerreiro ao fim de sair daquele lugar que o protegeu por tanto tempo.
Nunca pensei em sair de uma UCIN com amizades mas a verdade é que saí e cada mamã que me marcou o coração é especial.
A UCIN é o lugar que cuida dos nossos filhos e é o lugar em que partilhamos tudo o que nos vai na alma.
Obrigada a cada mamã que lutou todos os dias para estarem fortes com os seus bebés e obrigada por cada sorriso e cada conversa partilhada...

Imagem retirada de: https://www.pensador.com/frase/Nzk20Dg1

segunda-feira, 4 de junho de 2018

Como se ama um prematuro...



Para amar alguém não basta apenas dizer, temos que sentir e retribuir com gestos. E por isso amar é um verbo muito complexo
Confesso que nunca liguei muito à complexidade do verbo amar e o que se pode fazer para demonstrar o nosso amor.
Até a Lara nascer para mim amar era simples. Bastava um abraço, um beijinho, uma palavra, compreensão, respeito e companhia. E se uma pessoa não abraçasse ou não beijasse para mim não amava a outra.
Mas a vida é um ensinamento e estamos a aprender todos os dias. Ser mãe de uma prematura ensinou-me muita coisa, ensinou-me que não se pode desistir, devemos sempre continuar a lutar por aquilo que acreditamos e essencialmente ensinou-me a amar.
Sim no tempo de estadia na UCIN aprendi a amar e foi a minha pequenina que me ensinou. Aprendi a amar a minha filha de uma forma que não era aquela que imaginava.
Não a pude abraçar nem beijar logo quando ela nasceu e por isso tive que reaprender a amar. E sabem como eu demonstrava o meu amor? Eu amava a minha filha no momento em que lhe fazia companhia todos os dias, no momento em que eu dizia que iria ficar tudo bem. Amava a Lara no momento em que lhe dizia como ela era forte e como estávamos orgulhosos dela. Amava a minha filha quando ficava feliz com uma vitória, amava a minha filha quando a elogiava mesmo quando ela dava um passo atrás. Amava a minha filha quando aceitava que tudo o que ela fazia já era bom, mesmo que fosse lentamente.
Amava a minha filha quando ficava apenas a olhar para ela para poder descansar. Amava a minha filha quando lhe lia uma história ou quando cantava uma canção. Amava a Lara quando lhe desejava bom dia e boa noite. E principalmente amava a minha filha quando respeitava o tempo dela.
Não minto que a minha vontade era ter amado a minha filha logo com beijinhos e abraços mas neste processo o que importa é o ritmo deles e não as nossas vontades e os nossos desejos.
Tudo o que desejamos fica em segundo plano. Mesmo quando já havia uma certa segurança para um beijinho eu não o fiz pois naquele momento sabia que não era um beijinho que iria fazer a diferença da forma como amava a Lara e ela sabia.
Não era por isso que éramos umas mães menos afectuosas. Pelo contrário éramos mães à nossa maneira e que amávamos os nossos filhos à nossa maneira.
A forma como vemos a vida e como sentimos as coisas muda completamente quando se entra nesta realidade da prematuridade. Somos melhores mães por isso? Para os nossos filhos sim, mas cada uma tem a sua luta e cada mãe vive a realidade que tem.
A nossa realidade é avançar no ritmo deles e se tivermos que nos adaptar para o bem estar dos nossos filhos fazemos.
Ser mãe de uma prematura mostrou-me tanta coisa que pensava saber e que ainda me faltava descobrir.
Amem por completo, e lembrem-se amar não é apenas abraços e beijinhos...

sábado, 2 de junho de 2018

O que muda...


Muitas pessoas não têm noção do que é ter uma filha internada, não é apenas tê-la ali numa caixinha protegida. A partir do momento em que a nossa filha entra naquele lugar tudo o que era normal, todas as nossas rotinas têm que mudar obrigatoriamente. E uma dessas grandes mudanças é deixar o nosso espaço para acompanhar o desenvolvimento dela. A partir desse dia passamos a viver num hospital para podermos estar ao lado dos nossos filhos. E não é fácil deixar as nossas coisas e começar este processo.A nossa casa é o nosso refúgio, o nosso porto de abrigo. É o espaço onde podemos recarregar energias e relaxar. Quando vivemos num hospital vivemos num sítio que não é nosso e que quando tem que ser nosso é por pouco tempo. Mas quando se tem uma grande prematura sabemos que essa estadia será longa e sabemos que vamos ter que nos habituar ao momento de solidão. Não conseguimos estar 24h com os nossos filhos infelizmente não somos de ferro.
Quando estamos com os nossos filhos estamos bem e até nos esquecemos um pouco o lugar onde estamos pois estamos junto à nossa família, a um pedaço de nós. Mas quando isso acaba o que nós temos?
Temos um espaço que não é o nosso, temos um quarto cheio de nada.
Nesses momentos sentimos que o nosso marido nos faz falta. Sentimos que no momento em que saímos do lado dos nossos filhos era hora de ir para o lado do que é nosso.
E mesmo sentindo que era hora de ir para a nossa casa porque este lugar não é nosso temos que fazer com que o quarto vazio seja o nosso refúgio.
Trazemos um objecto de casa que nos faça esquecer que estamos num quarto de hospital.
Faz com que  a vontade de ir sentir o que é nosso seja grande. Tudo se torna complexo porque ir ao fim de semana também só é possivel graças à confiança que ganhamos à equipa.
Mas o certo é que com o  tempo aquele espaço vazio começa a ser um refúgio, onde relaxamos quando os dias são mais duros.
E todo este esforço é feito pelo tempo necessário. Fazemos tudo isto por eles porque eles merecem tudo, porque se eles lutaram e lutam para vencer na vida nós também temos que nos esforçar e isto comparado com a luta que eles têm é um grão de areia num deserto...

Imagem retirada de: https://www.docsopinion.com/2017/08/13/loneliness-social-isolation/