quinta-feira, 31 de maio de 2018

Como chegamos ao toque...


O toque é associado a algo espontâneo, algo que podemos fazer quando desejamos e quando temos uma filha o que desejamos é tocar e senti-la junto a nós. Mas quando se tem uma filha com 24 semanas e 6 dias esse toque tem que esperar.
A ansiedade é imensa e cada dia que passa aumenta. Sendo assim pequenina o toque é demorado. Ou pelo menos a nossa coragem para tal demora a chegar.
Não queremos que nada aconteça e o maior medo nesta fase é transmitir bactérias para eles. Então adiamos e enquanto esperamos a coragem chegar apenas contemplamos os nossos filhos através das janelinhas da incubadora.
E depois só o facto de podermos tapar a incubadora  com um pano para a luz não a incomodar já é uma alegria. Sentimos que mesmo separados por uma caixinha podemos fazer alguma coisa por ela.
Depois vem a fase do primeiro toque, aquele toque suave e com medo. Aquele toque só com a pontinha do dedo. Mas mesmo assim é uma vitória e uma alegria ao fazê-lo. Finalmente sentimos como é quentinha a pele da nossa filha e como é tão fofinha. E assim começamos a aumentar o amor já criado entre papás e filha.
O passo seguinte é medir temperatura e tensão. A primeira vez é com medo e com receio de a magoar. Mas notamos que ela não é assim tão frágil como parece e até tem bastante força.
E quando temos coragem para mudar a primeira fralda aí sim percebemos o que é medo a sério. Então se for o primeiro filho e sem experiência em mudar mais receio se tem. Mas depois da primeira vem a segunda e a terceira e começamos a ter menos medo e  já se faz com mais facilidade. E ao fim de um tempo já fazemos tudo sem medos e sem receios. E aí sentimos que finalmente podemos ajudar nos cuidados da nossa filha.
Mas o que os papás mais desejam é sentir o calor dos filhos no nosso peito. Aquele momento que nos foi tirado à nascença. É o momento chamado: canguru. Aquele método maravilhoso em que nos colocam os nossos filhos no nosso peito e ficamos pele com pele. Nem sempre é quando desejamos e o principal é respeitar e aceitar o tempo que eles necessitam. Mas quando chega o momento é maravilhoso. Ao fim de um mês e meio de espera aquelas duas horas tornaram-se as melhores horas das nossas vidas. São aquelas horas em que fazíamos parar o tempo só para prolongar aquele toque tão desejado. São as mais maravilhosas e também as mais rápidas horas.
E toda esta evolução do toque só é possível graças aos tios e tias da UCIN. Sem eles nada disto seria possível. São eles que nos ensinam e nos incentivam. São eles que nos dizem o quanto bom é para eles os papás participarem e que não é assim tão difícil.
Obrigado tios e tias por me terem dado a confiança e a coragem para tocar na minha filha...

terça-feira, 29 de maio de 2018

Bem vinda à UCIN...

Agora estamos na nossa nova casa que se chama UCIN.
O nome é assustador mas quando entramos e vemos os nossos filhos bem não dá para continuar a achar a UCIN assustadora.
Aceitamos o facto da nossa filhota estar  numa caixinha quentinha chamada incubadora.
E aos poucos conhecemos todos os enfermeiros e enfermeiras, todos os médicos e médicas, todas as auxiliares. E todas estas pessoas passam rapidamente a fazer parte da nossa vida. Fazem parte da família e todos têm um lugarzinho especial no nosso coração.
Ficamos a conhecer a unidade tão bem e começamos a perceber que a nossa filha não é a única.
Começa assim um processo de aprendizagem. Aprendemos essencialmente a esperar, a seguir o ritmo dos bebés.
Aprendemos que nem todos os apitos são maus e nem sempre é preocupante.
Aprendemos tudo o que é necessário fazer para os nossos filhos estarem bem. Ficamos a saber como é importante  uma aspiração que tanto detestam. Como uma picada é necessária e importante.
E todo esse ambiente passa a ser normal. Já não nos faz confusão estar a contemplar os nossos filhos e uma máquina apitar.
Eu aceitei tudo com normalidade que até  me sinto em casa. Pode parecer estranho mas depois de tanto tempo aceito a situação. Percebi que este lugar é tão importante para a minha filha que tive que o aceitar.
Se queremos o melhor deles porque não havemos de aceitar este lugar?
Com o tempo de convivência percebemos o quão importante são os enfermeiros. Como é importante confiar a 100% nos profissionais que estão com os nossos filhos. Esse é um passo muito importante pois só assim conseguimos dormir descansadas ou ir visitar a nossa casa e a nossa família.
E porquê duvidar de pessoas que abdicam da sua própria família para cuidar da nossa? Dou muito valor a isso. Depois vemos o carinho, o cuidado e atenção que os "tios" dão aos bebés.
Como continuam a ter paciência ao fim de tanta hora e tantos turnos com os mesmos apitos.
Apesar de serem apitos irritantes eles continuam lá a olhar pelos nossos filhos. Eles continuam a olhar por eles mesmo quando tudo está calmo. Não será isso amor? 
Na minha modesta opinião e sendo uma opinião de uma simples observadora, estes tios e tias têm um amor pelos bebés e como não podemos valorizar estes profissionais? São pessoas com um coração enorme. 
No coração de cada um há sempre um espaço para cada bebé da unidade.


Imagem retirada de: https://www.facebook.com/pages/UCIN-MBB/932199596899520

domingo, 27 de maio de 2018

Momento da verdade...


Quando desejamos ser mães imaginamos sempre o maravilhoso que é. Imaginamos que durante 40 semanas vamos vivenciar momentos incríveis e vamos criar e construir um amor com o nosso bebé logo de início. E depois das 40 semanas vamos ter um recém nascido a chorar em casa.
Quando engravidamos pensamos que conhecemos a realidade de ser mãe mas há momentos que nos levam a conhecer novas realidades.
E esse momento chega quando, de repente mesmo estando tudo bem, a nossa filha resolve vir ao mundo com 24 semanas e 6 dias.
E no momento em que nos dizem que ela vai nascer nascem ao mesmo tempo medos e dúvidas. As primeiras horas de vida são as piores pois não sentimos os nossos filhos, por ser tão pequenina dizem-nos que é muito difícil e por momentos deixamos de acreditar que é possível sobreviver com 24 semanas e 6 dias. E com isso tudo vem as dúvidas do futuro. Como funciona o processo, para onde vai, como é viver o dia a dia da nossa filha prematura.
Mas nós mães, apesar de tudo pelo que passamos, temos que reconhecer os maridos e pais que estão ao nosso lado. São eles que vivem os primeiros momentos da nova realidade. São eles os primeiros a verem onde os nossos filhos vão ficar. São eles que vêem como os nossos filhos são pequeninos e como parecem tão frágeis. E depois de verem tudo isso vêm com todo o carinho contar-nos para o choque não ser tão grande. São eles que nos dizem como são lindos os nossos filhos apesar de pequeninos. São eles que trazem aquele postal tão especial que a UCIN (Unidade Cuidados Intensivos Neonatal) dá para nos lembrar o quanto os bebés necessitam de nós.
E depois de tudo isso são os papás que acompanham as mamãs para conhecer a nova casa da nossa família.
E a primeira coisa importante a fazer é aceitar toda a situação e olharmos para os nossos bebés e acreditar. Aceitarmos que a UCIN vai ser a nossa segunda casa.
E naquele momento começa uma nova etapa...

Imagem retirada de: http://www.qcosas.com/enfermera-ucin-bebes/

sexta-feira, 25 de maio de 2018

Um Natal diferente...


O Natal de 2017 foi um Natal muito diferente e que jamais será esquecido.
Um Natal que marcou as nossas vidas para sempre. 
No dia 25 de Dezembro a Lara decidiu vir ao mundo com apenas 24 semanas e 6 dias. Fui ainda no dia 24 para o hospital após a ceia com contracções com intervalos de 5 segundos. Cheguei com 7cm de dilatação.
Inicialmente não queria acreditar que aquelas dores fossem de verdade, pensava que fosse um mau jeito ou pelo facto de estar sempre sentada. Já tinha tido um dor daquelas no início da tarde mas como passou logo, depois da ceia pensava que seria o mesmo, que iria passar. Confesso que sabia que alguma coisa não estava bem mas o medo do que me poderiam dizer no hospital fez com que aguentasse até ter contracções com pouco tempo de intervalo. Na minha cabeça não poderia ser nada bom aqueles sintomas. E realmente não foi bom por um lado mas por outro sim. E quando me observaram não me diziam nada a não ser que tínhamos que ir fazer eco e que teriam que pedir opinião ao colega. Pensei logo que poderia estar tudo a acontecer de novo. Foram momentos de angustia e ainda por mais na minha zona de residência o hospital não está preparado para receber um grande prematuro como a Lara e ainda tentaram me transferir para Coimbra. Uns diziam que não dava pois já tinha muitos centímetros de dilatação. Mas a médica insistia. O que vale é que enquanto discutiam se ia ou não fiquei com a dilatação completa e passado um tempo a Lara nasceu de parto normal. Não tive tempo de levar nada para as dores e apesar dela pesar apenas 600g doeu bastante, por momentos pensei que não iria aguentar, mas o que nós não aguentamos por eles?
Foi tudo um choque, foi tudo uma incerteza pois a forma como nos falavam era mesmo esse sentimento de incerteza que nos transmitiam. Mas ali começou uma grande luta e a Lara lutou tão bem...
Conseguiram estabilizar a Lara. Depois desta batalha, sim porque para um bebé de 24 semanas e 6 dias respirar sozinha é uma luta enorme. Ela só foi entubada quando o INEM chegou. Depois disso veio o perigo da viagem que era longa e ela poderia não aguentar. Mas sabem que mais? Naquele dia nasceu uma guerreira, uma lutadora. Ela agarrou-se à vida e lutou com todas as forças que tinha e venceu. Venceu as primeiras batalhas as que toda a gente pensava que não iria conseguir.
E agora começa uma nova fase, uma fase diferente e desconhecida, que fomos conhecendo aos poucos. E o que eu pensava que seria um momento doloroso foi um momento maravilhoso. Ainda por cima ouvi a nossa filhota a chorar. 

Começou ali uma batalha a três: da Lara, do papá e da mamã...

Imagem retirada de: https://openclipart.org/collection/collection-detail/MagnaL/12878

quarta-feira, 23 de maio de 2018

Os momentos do segundo trimestre...


O segundo trimestre foi maravilhoso. A Lara cada vez se mexia mais e era muito bom. Criou-se desde logo uma cumplicidade enorme e sossegava o meu coração pois se ela se mexia era porque estava tudo bem.
Neste trimestre é quando se faz a ecografia morfológica. Estava super ansiosa para ir, para ver se estava tudo bem e para conhecer um pouco mais da Lara.
Foi muito bom, já se consegue ver com mais pormenor a carinha, a boquinha e todo o corpo. O mais importante era saber que estava tudo bem, todos os órgãos estavam a funcionar bem. E quando a médica tentou tirar uma "foto" à linda cara da Lara ela, marota como já era, tapou a cara com a mãozinha dela.
Não conseguimos ter uma imagem da cara da Lara mas tivemos aquele momento divertido que nos ficou na memória.
Também neste trimestre tem que se fazer as análises por causa dos diabetes. E neste campo estava cheia de medo. Não com medo de ter diabetes mas sim do exame em si.
Para quem não sabe como funciona esta análise é o seguinte: temos que beber um "sumo" super doce e depois tiram sangue.
Ora bem eu sou daquelas pessoas que enjoa com xaropes, saquetas e tudo que tenha sabores fortes. Tinham acabado de terminar os malditos enjoos e naquele momento teria que beber uma coisa que todas as pessoas diziam que era difícil. Meu Deus que medo.
Mas sabem que mais? Não custou nada fiz a análise e fui para casa bem disposta.
Não liguem muito ao que as outras pessoas opinam, cada corpo é um corpo e as pessoas têm sempre tendência a exagerar...

Imagem retirada de: https://pt.pngtree.com/freepng/cartoon-pregnant-women-vector-material_911749.html

terça-feira, 22 de maio de 2018

Um ensinamento chamado gravidez...





Realmente a gravidez é diferente de mulher para mulher. A gravidez é um poço de surpresas. 
A minha ensinou-me que não vale a pena fazer planos porque basta um piscar de olhos para os planos deixarem de fazer sentido.
Como já referi foi a primeira vez que cheguei a meio do 2° trimestre e descobri que há momentos muito bons que jamais poderão ser esquecidos. O sentir a nossa sementinha a mexer sempre que falamos é maravilhoso.
E vocês perguntam se já conseguia relaxar. Claro que não! Mesmo estando tudo a ir bem não conseguia relaxar. Isto porque aprendi que na gravidez não há um momento seguro. Tudo pode acontecer e se no 1°trimestre eu tinha medo derivado ao passado naquele momento  tinha medo da novidade.
Basicamente tinha medo por não conseguir perceber o que era normal ou não. Tinha medo que algo acontecesse  naquela  fase em que o amor e cumplicidade com a nossa menina já era enorme.
Sim tive uma menina, a Lara. Não vai substituir a nossa 189g de amor mas não fazia sentido escolher outro nome, pelo menos para nós.
E a Lara estava a ir tão bem... Não tive sustos com ela, nesse aspecto foi uma gravidez santa. Mas há sempre outros aspectos que nos deixam com medo. 
Foi me detectado um pólipo junto ao colo do útero. Não prejudicava a gravidez em nada apenas não se podia mexer pois aí sim podia causar um aborto.
Então qual é o mal? O mal é que até ao fim da gravidez esse pólipo iria sangrar, nem sempre mas ia. E sangue para mim era traumatizante mesmo que tivesse a explicação para isso. Tive que aprender a viver com isso durante aquele momento maravilhoso. 
Psicologicamente temos que estar fortes e relaxadas pois tudo isso influencia a forma como vivemos a gravidez. No meu caso, como nem sempre conseguia controlar, vivi a gravidez com 50% de medos e inseguranças e os outros 50% de felicidade pura.
Não pensem que a gravidez é tudo um mar de rosas porque não é, mas acreditem que vai ser o melhor momento das vossas vidas e não tentem comparar a vossa com as das outras porque cada gravidez é uma gravidez e por ter acontecido a uma não significa que vai acontecer a vocês. Aproveitem esta fase maravilhosa...

Imagem retirada de. https://pt.pngtree.com/freepng/cartoon-pregnant-women-vector-material_911749.html