terça-feira, 3 de julho de 2018

Saí da UCIN para a Neonatologia...


Ao início queremos que a nossa estadia na UCIN seja rápida mas ao fim de 3 meses isso muda.
Em 3 meses uma pessoa ganha confiança e amigos. Em 3 meses ganhamos esperança que ali seja o último lugar antes de irmos para casa. Mas o dia de irmos para o hospital de residência chega e aí percebemos o quão a rotina se tornou um vício. E de repente entramos num espaço novo e enorme e sentimos falta daquilo que tinhamos. Sentimos falta do calor humano principalmente. Para mim foi muito doloroso mais do que imaginei. Pensei que estar perto de casa ajudaria a ultrapassar esta última fase mas afinal não. O ter que ir e vir todos os dias estava a deixar-me cansada e estando cansada não conseguia ter a força que me caracterizou durante 3 meses num sítio muito mais doloroso.
Senti que estava a desiludir toda a gente que teve orgulho em mim e essencialmente que estava a falhar com a minha filha.
Ao fim de 2 dias tive que mudar e então decidi viver novamente no hospital. Na verdade o cansaço não foi a única razão, a falta de confiança na equipa foi o que mais influenciou a minha ida para o hospital. Não conseguia dormir descansada mesmo quando estava no hospital. Na minha opinião a equipa nestes ambientes é muito importante e se não nos acolhem como deve ser não dá para termos confiança.
O sentimento de não ser bem vinda foi o que mais prevaleceu e o sentimento de ser julgada mesmo antes de me conhecerem foi enorme. Este lugar, apesar de menos intenso, necessita de um certo carinho e atenção pois é o lugar onde vamos passar mais algum tempo com os nossos bebés. E não havia carinho nem amor naquele lugar. Aquele lugar era um posto de trabalho e por momentos parecia que estava numa linha de montagem em que os procedimentos eram sempre iguais e não havia um momento para acarinhar os bebés. Isso chocou-me bem como a indiferença com que tratam as mães. Não pensavam como nos sentimos. E nós mães que viemos da UCIN? Viam-nos como aquelas mães que pensam que sabem tudo, aquelas que opinam e fazem perguntas difíceis. Somos aquelas mães que não engolimos tudo o que nos dizem.
E no fim disto só conseguem criar em nós um sentimento de indiferença e uma ansiedade imensa de sair dali e não voltar nem por uma visita.
Foi o pior mês nesta caminhada. Sentia cada dia as forças a desaparecer o que vale é que o dia da alta chegou na hora certa e esse dia soube muito bem.
Não é fácil a transição mas temos que olhar para os nossos pequenos e manter a nossa força e nunca duvidar das nossas capacidades como mães...

Imagem retirada de: http://prematuridade.com/index.php/noticias-mod/saude-do-prematuro-41

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