segunda-feira, 4 de junho de 2018

Como se ama um prematuro...



Para amar alguém não basta apenas dizer, temos que sentir e retribuir com gestos. E por isso amar é um verbo muito complexo
Confesso que nunca liguei muito à complexidade do verbo amar e o que se pode fazer para demonstrar o nosso amor.
Até a Lara nascer para mim amar era simples. Bastava um abraço, um beijinho, uma palavra, compreensão, respeito e companhia. E se uma pessoa não abraçasse ou não beijasse para mim não amava a outra.
Mas a vida é um ensinamento e estamos a aprender todos os dias. Ser mãe de uma prematura ensinou-me muita coisa, ensinou-me que não se pode desistir, devemos sempre continuar a lutar por aquilo que acreditamos e essencialmente ensinou-me a amar.
Sim no tempo de estadia na UCIN aprendi a amar e foi a minha pequenina que me ensinou. Aprendi a amar a minha filha de uma forma que não era aquela que imaginava.
Não a pude abraçar nem beijar logo quando ela nasceu e por isso tive que reaprender a amar. E sabem como eu demonstrava o meu amor? Eu amava a minha filha no momento em que lhe fazia companhia todos os dias, no momento em que eu dizia que iria ficar tudo bem. Amava a Lara no momento em que lhe dizia como ela era forte e como estávamos orgulhosos dela. Amava a minha filha quando ficava feliz com uma vitória, amava a minha filha quando a elogiava mesmo quando ela dava um passo atrás. Amava a minha filha quando aceitava que tudo o que ela fazia já era bom, mesmo que fosse lentamente.
Amava a minha filha quando ficava apenas a olhar para ela para poder descansar. Amava a minha filha quando lhe lia uma história ou quando cantava uma canção. Amava a Lara quando lhe desejava bom dia e boa noite. E principalmente amava a minha filha quando respeitava o tempo dela.
Não minto que a minha vontade era ter amado a minha filha logo com beijinhos e abraços mas neste processo o que importa é o ritmo deles e não as nossas vontades e os nossos desejos.
Tudo o que desejamos fica em segundo plano. Mesmo quando já havia uma certa segurança para um beijinho eu não o fiz pois naquele momento sabia que não era um beijinho que iria fazer a diferença da forma como amava a Lara e ela sabia.
Não era por isso que éramos umas mães menos afectuosas. Pelo contrário éramos mães à nossa maneira e que amávamos os nossos filhos à nossa maneira.
A forma como vemos a vida e como sentimos as coisas muda completamente quando se entra nesta realidade da prematuridade. Somos melhores mães por isso? Para os nossos filhos sim, mas cada uma tem a sua luta e cada mãe vive a realidade que tem.
A nossa realidade é avançar no ritmo deles e se tivermos que nos adaptar para o bem estar dos nossos filhos fazemos.
Ser mãe de uma prematura mostrou-me tanta coisa que pensava saber e que ainda me faltava descobrir.
Amem por completo, e lembrem-se amar não é apenas abraços e beijinhos...

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